Por Pr. Wellington Santos
Nestes últimos dias, durante nosso
tempo sabático aqui em Webster Groves-MO, tenho visto e ouvido através da
internet, acompanhando as últimas e lamentáveis notícias de boa parte da igreja
evangélica brasileira midiática, muitos discursos religiosos vindos de crentes,
líderes e até de alguns que se acham verdadeiros “super líderes” da igreja
cristã. Estes discursos partem da maioria da bancada evangélica no congresso
brasileiro e dos inúmeros programas de televisão comandados pelos pastores da
mídia. Geralmente os discursos seguem quase sempre na mesma direção. Deixe-me
destacar pelo menos duas frases interessantes e quase fundamentais neste tipo
de discurso que precisam ser repetidas diariamente, para passar um ar de
preocupação com a obra de Deus, demonstrando santidade e intimidade com o
Senhor da Seara:
1. “Precisamos defender a igreja de
Jesus”. Para mim estes são os que se consideram advogados contratados pelo
“pobre” Senhor que não tendo como defender sua igreja precisa com muita
urgência da misericórdia humana destes e destas que se colocam a disposição
para “defender” a igreja do Senhor. São crentes e líderes de “alta estirpe
espiritual” que se consideram autorizados por Deus e capazes de defender a
igreja de todos os ataques do maligno. Honestamente meus irmãos, Deus nunca
precisou de advogados nem nunca precisará. Ele nunca passou nenhuma procuração
para que ninguém ficasse usando seu nome a todo instante indevidamente. Neste
ponto quero aqui relembrar as palavras da teóloga católica Ivone Gebara que tem
insistido em dizer que precisamos deixar Deus em paz e aprender a assumir
nossas lutas e interesses, falando mais em nosso próprio nome e deixando de
usar o nome de Deus para justificar nossas visões ideológicas e políticas da
vida;
2. “Este mundo está perdido com tudo
que nele há”. Esta frase é boa e precisa ser observada com atenção, pois, passa
uma ideia de que quem recita a mesma está praticamente recitando as palavras
literais do nosso Senhor e Mestre Jesus de Nazaré. Primeiro é bom observar que
estas são palavras do apóstolo João registradas em sua primeira epistola e não
palavras literais do Senhor Jesus; Segundo é bom atentar para o texto em si.
Observe por exemplo: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o
mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo (a cobiça da
carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens) não provém do Pai, mas do
mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus
permanece para sempre. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o
poder do Mal” (I João 2:15-17 e 5:19). De fato numa rápida leitura
ou como atualmente gostamos de fazer, deixar que os outros leiam, pensem e
interpretem por nós, fica a ideia de que o mundo com todas as suas belezas e
coisas boas não valem de nada. Tudo será destruído no fim. Não concordo com
esta visão. Precisamos aprender a separar, como diz o provérbio popular, a
espinha do peixe, tendo muito cuidado para não jogarmos a água suja do banho da
criança com a criança dentro. Aqueles que insistem em se comportar como juízes
afirmando que o mundo não tem nada de bom, geralmente estão dando ênfase às
tragédias diárias que nos cercam que nem preciso mencioná-las aqui de tanto que
se fala delas. Acaba-se dando uma ideia que este mundo criado por Deus, que
disse que tudo era muito bom (Gênesis 1:1-31) não presta e
precisa ser destruído o mais rápido possível. É verdade que a maldade e o
pecado acabaram dando uma boa borrada no projeto inicial, entretanto, este
mundo criado por Deus é simplesmente maravilhoso. Olhe a sua volta e tente
enxergar tanta beleza e coisas maravilhosas que Deus criou para nosso bem.
Neste mesmo mundo de belezas e maravilhas, também temos lamentavelmente
violência, abuso de poder, acumulo de riqueza, fome, miséria e tantas outras
mazelas que precisam ser denunciadas e combatidas a fim de que possamos
equalizar melhor a vida para todos e todas; agora afirmar que o mundo não tem
nada de bom é um tremendo de um exagero e de uma leitura condicionada da Bíblia.
Até porque muitos daqueles e daquelas que tanto esbravejam contra o mundo e
suas mundanidades, não conseguiriam viver hoje sem ar condicionado nos templos,
carro de luxo, tablets, sonorização moderna, ternos super caros e
mundanos, etc. Alguns homens e mulheres de “Deus” não conseguindo viver mais
entre os simples mortais mudam-se para viver de forma nababesca em condomínios
de luxo e fazendas particulares. Não viajam mais entre os mortais pecadores,
alegando necessidade de pregar o evangelho rápido, até porque o mundo está se
acabando de tanta maldade, só viajam em seus aviões particulares, enfim,
mundanidades que parecem não fazer nenhum mal aos que tanto julgam e pregam
contra o mesmo mundo que usufruem e curtem adoidado.
Dei ênfase para estas duas frases no
afã de destacar que nosso papel como servos do Senhor Jesus de Nazaré não deve
ser diferente do nosso Mestre, Salvador e inspiração de vida. Segundo o
evangelho de João, “todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele,
nada do que existe teria sido feito” (João 1:3). Jesus de Nazaré
que poderia pregar a total destruição do mundo com todos os seus paradoxos fez
as seguintes afirmações com relação ao mundo: “Eu não vim para julgar o mundo,
mas para salvá-lo. Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito,
para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse
salvo por meio dele” (João 12:47b e 3:16,17). Jesus foi tão
radical em sua missão e amor pelo mundo criado com Ele e por Ele que o
evangelho de Marcos registrou as seguintes palavras Dele: “Pois nem mesmo o
Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos” (Marcos 10:45). O foco do discurso e da vida de
Jesus com relação ao mundo não estava na defesa de Deus nem tampouco no
julgamento e condenação do mundo e sim no serviço as pessoas que habitavam o
mundo da sua época. Se quisermos ser fiéis ao discurso de Jesus e imitá-lo,
teremos que abandonar a postura de advogados e juízes do mundo para assumir a
postura de servos do mundo. Em nosso último fórum igreja e sociedade realizado
em agosto de 2011, o Pr. Reginaldo Silva fez a seguinte afirmação: “A missão da
igreja não é de salvar o mundo e sim de servi-lo”.
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